Revista Metropole
'A utopia que dá certo'
'A utopia que dá certo'
Nova vida: filtro de café usado é um dos materiais reaproveitados em artesanato feito sob medida para quem sonha com menos lixo e mais luxo
Sammya Araújo
sammya@rac.com.br
Para a mulher que sonha em casar de branco, com véu e grinalda, pode parecer uma idéia incrivelmente bizarra, mas técnicas do Serviço Social da Indústria (Sesi) provaram que um vestido de noiva deslumbrante pode ser feito com materiais que seriam jogados fora. Na melhor acepção do conceito "do lixo ao luxo" , as artesãs reaproveitaram filtros de café usados na confecção de um traje inusitado, mas digno de passear no tapete vermelho. O modelo, que esteve exposto no Sesi Campinas Amoreiras em setembro, foi elaborado por professoras dos cursos de costura e moda, artesanato, artes plásticas e educação ambiental da unidade de São José do Rio Preto e virou um ícone dos programas de reciclagem e geração de renda da entidade em São Paulo.
"O objetivo foi demonstrar que o reúso de materiais pode ter as mais diversas finalidades, inclusive nobres. E também conscientizar os alunos para a importância ecológica do reaproveitamento, na contramão do modismo e do consumismo, seguindo a linha de fomento à geração de renda do Sesi" , define Viviane Coelho, técnica de artesanato e artes plásticas do Sesi Campinas. O mais popular representante desse trabalho, o vestido de noiva, afirma, foi feito com 350 filtros de papel comuns, usados em cafeteiras domésticas.
Antes de qualquer procedimento, os filtros foram lavados para a retirada de resíduos do pó. Mas as manchas de variados tons de marrom permaneceram, o que, no resultado final, assemelhou-se muito ao couro, inclusive na textura, que nem na ponta dos dedos parece papel. Para compor o vestido, os filtros foram costurados num forro de algodão, e depois bordados com miçangas e canutilhos. Detalhes pintados à mão e flores feitas com dobraduras de filtros arrematam o tomara-que-caia.
O modelo é, de fato, usável, assegura Viviane. Tanto assim que fez sucesso ao abrir um desfile do evento Noiva Fashion, feira do setor de casamentos realizada em maio no Sesi de São José do Rio Preto. "Imagine que o coador com que se faz café hoje poderia virar um vestido usado por uma modelo num desfile de moda. Pois é com isso que trabalhamos. É a utopia que dá certo" , afirma.
Tudo vira arte
O traje de noiva, que seguiu em peregrinação por outras unidades da entidade no Estado, é somente uma amostra das maravilhas produzidas, quase sempre anonimamente, pelos técnicos e alunos do Centro de Atividades Sociais do Sesi em Campinas.
Lá, tudo vira arte. Embalagens de alimentos, latas, cacos de vidro, papel, CDs, tubos de tinta, sementes e retalhos de tecido, para citar alguns exemplos, encontram uma segunda chance e renascem em peças decorativas e utilitárias. "Nosso próximo passo é começar a trabalhar com pneus, que podem ser usados até em mobiliário" , afirma a técnica de artesanato e artes Viviane Coelho.
Garrafas ou rebarbas de vidro recolhidas em vidraçarias, mostra orgulhosa Viviane, podem bem se transformar em petisqueiras e modernas esculturas, depois de moldadas no forno. Também podem compor belos mosaicos, adornando uma tela, um prato. As paredes se vestem de cor com quadros produzidos com CDs velhos e tubos de tinta espremidos até o fim. Ou, ainda, com impressionantes mandalas de mais de um metro de diâmetro, elaboradas com pedaços de canela em pau, sementes e - eles de novo - filtros de café usados.
Preço simbólico
A técnica Viviane Coelho, do Sesi Amoreiras, afirma que os cursos oferecidos pela entidade são abertos à comunidade em geral, mediante inscrição de usuário, mas contam com descontos aos beneficiários. No entanto, seja em um ou outro caso, o investimento é baixo. "Comparando-se ao que é praticado no mercado, o preço é simbólico" , afirma. Há inclusive, alguns gratuitos.
Quatro áreas envolvem os cursos: costura e moda (em setembro contava com módulos de patchwork, malharia infantil e customização em camisetas, por exemplo); educação ambiental e saúde (paisagismo, jardinagem e oficina de orquídeas); artesanato (óleo sobre tela, mosaico, estamparia em tecido e mandala, para citar alguns) e culinária (alimente-se bem, especial cozinha oriental). Os programas são modificados periodicamente e é preciso consultar a agenda do mês. Mais informações: f. 3772-4168 e 3772-4169 ou www.sesisp.org.br/home/2006/cat/home.asp.
Receita extra
A rica produção que prioriza o reúso de materiais extrapola os limites do Sesi pelas mãos das alunas dos cursos. Várias, como é justamente a proposta dos programas da entidade, transformaram suas habilidades em fonte de renda e comercializam seus produtos em feiras de artesanato em Campinas e no próprio Sesi, onde expõem durante três dias todos os meses.
Uma delas é Ângela Aparecida Ormenese, que há dois anos trabalha com vidros e acrílico em bijuterias. "Tenho um primo vidraceiro e pego retalhos com ele" , comenta. Lia Teresinha Frederico da Silva aplica o que aprendeu fazendo tudo o que for possível em patchwork, aquela técnica de juntar pedacinhos de tecido em coloridas composições. "Os tecidos são recortados e usados até acabar. Não sobra e não estraga nada" , garante.
O mesmo princípio utiliza Marilda Formenti Gomes Palermo em suas delicadas bonecas de pano. "Compro o tecido e vou usando de uma para a outra" , revela. Com Vânia Raquel Grotta Bandeira o negócio é a matéria-prima proveniente da natureza. Com criatividade e disposição para inovar, ela utiliza sementes, principalmente de açaí e de jarina, palmeira também originária da Amazônia que é conhecida como "marfim vegetal" .
"Também uso pedaços de coco vindos da Bahia, cascalho de pedras brasileiras, crochê de barbante, aparas de madeira, tudo ecológico" , assegura Vânia. As minúcias do reaproveitamento chegam às embalagens usadas pela artesã: delicados saquinhos feitos (outra vez) com filtros de café usados e restos de papel de parede, arrematados com um palito. Mais contemporâneo, impossível.
Fonte:http://www.cpopular.com.br/metropole/conteudo/mostra_noticia.asp?noticia=1598845&area=2230&authent=6D5E9BE82907426C6C9ADA2835435E
sammya@rac.com.br
Para a mulher que sonha em casar de branco, com véu e grinalda, pode parecer uma idéia incrivelmente bizarra, mas técnicas do Serviço Social da Indústria (Sesi) provaram que um vestido de noiva deslumbrante pode ser feito com materiais que seriam jogados fora. Na melhor acepção do conceito "do lixo ao luxo" , as artesãs reaproveitaram filtros de café usados na confecção de um traje inusitado, mas digno de passear no tapete vermelho. O modelo, que esteve exposto no Sesi Campinas Amoreiras em setembro, foi elaborado por professoras dos cursos de costura e moda, artesanato, artes plásticas e educação ambiental da unidade de São José do Rio Preto e virou um ícone dos programas de reciclagem e geração de renda da entidade em São Paulo.
"O objetivo foi demonstrar que o reúso de materiais pode ter as mais diversas finalidades, inclusive nobres. E também conscientizar os alunos para a importância ecológica do reaproveitamento, na contramão do modismo e do consumismo, seguindo a linha de fomento à geração de renda do Sesi" , define Viviane Coelho, técnica de artesanato e artes plásticas do Sesi Campinas. O mais popular representante desse trabalho, o vestido de noiva, afirma, foi feito com 350 filtros de papel comuns, usados em cafeteiras domésticas.
Antes de qualquer procedimento, os filtros foram lavados para a retirada de resíduos do pó. Mas as manchas de variados tons de marrom permaneceram, o que, no resultado final, assemelhou-se muito ao couro, inclusive na textura, que nem na ponta dos dedos parece papel. Para compor o vestido, os filtros foram costurados num forro de algodão, e depois bordados com miçangas e canutilhos. Detalhes pintados à mão e flores feitas com dobraduras de filtros arrematam o tomara-que-caia.
O modelo é, de fato, usável, assegura Viviane. Tanto assim que fez sucesso ao abrir um desfile do evento Noiva Fashion, feira do setor de casamentos realizada em maio no Sesi de São José do Rio Preto. "Imagine que o coador com que se faz café hoje poderia virar um vestido usado por uma modelo num desfile de moda. Pois é com isso que trabalhamos. É a utopia que dá certo" , afirma.
Tudo vira arte
O traje de noiva, que seguiu em peregrinação por outras unidades da entidade no Estado, é somente uma amostra das maravilhas produzidas, quase sempre anonimamente, pelos técnicos e alunos do Centro de Atividades Sociais do Sesi em Campinas.
Lá, tudo vira arte. Embalagens de alimentos, latas, cacos de vidro, papel, CDs, tubos de tinta, sementes e retalhos de tecido, para citar alguns exemplos, encontram uma segunda chance e renascem em peças decorativas e utilitárias. "Nosso próximo passo é começar a trabalhar com pneus, que podem ser usados até em mobiliário" , afirma a técnica de artesanato e artes Viviane Coelho.
Garrafas ou rebarbas de vidro recolhidas em vidraçarias, mostra orgulhosa Viviane, podem bem se transformar em petisqueiras e modernas esculturas, depois de moldadas no forno. Também podem compor belos mosaicos, adornando uma tela, um prato. As paredes se vestem de cor com quadros produzidos com CDs velhos e tubos de tinta espremidos até o fim. Ou, ainda, com impressionantes mandalas de mais de um metro de diâmetro, elaboradas com pedaços de canela em pau, sementes e - eles de novo - filtros de café usados.
Preço simbólico
A técnica Viviane Coelho, do Sesi Amoreiras, afirma que os cursos oferecidos pela entidade são abertos à comunidade em geral, mediante inscrição de usuário, mas contam com descontos aos beneficiários. No entanto, seja em um ou outro caso, o investimento é baixo. "Comparando-se ao que é praticado no mercado, o preço é simbólico" , afirma. Há inclusive, alguns gratuitos.
Quatro áreas envolvem os cursos: costura e moda (em setembro contava com módulos de patchwork, malharia infantil e customização em camisetas, por exemplo); educação ambiental e saúde (paisagismo, jardinagem e oficina de orquídeas); artesanato (óleo sobre tela, mosaico, estamparia em tecido e mandala, para citar alguns) e culinária (alimente-se bem, especial cozinha oriental). Os programas são modificados periodicamente e é preciso consultar a agenda do mês. Mais informações: f. 3772-4168 e 3772-4169 ou www.sesisp.org.br/home/2006/cat/home.asp.
Receita extra
A rica produção que prioriza o reúso de materiais extrapola os limites do Sesi pelas mãos das alunas dos cursos. Várias, como é justamente a proposta dos programas da entidade, transformaram suas habilidades em fonte de renda e comercializam seus produtos em feiras de artesanato em Campinas e no próprio Sesi, onde expõem durante três dias todos os meses.
Uma delas é Ângela Aparecida Ormenese, que há dois anos trabalha com vidros e acrílico em bijuterias. "Tenho um primo vidraceiro e pego retalhos com ele" , comenta. Lia Teresinha Frederico da Silva aplica o que aprendeu fazendo tudo o que for possível em patchwork, aquela técnica de juntar pedacinhos de tecido em coloridas composições. "Os tecidos são recortados e usados até acabar. Não sobra e não estraga nada" , garante.
O mesmo princípio utiliza Marilda Formenti Gomes Palermo em suas delicadas bonecas de pano. "Compro o tecido e vou usando de uma para a outra" , revela. Com Vânia Raquel Grotta Bandeira o negócio é a matéria-prima proveniente da natureza. Com criatividade e disposição para inovar, ela utiliza sementes, principalmente de açaí e de jarina, palmeira também originária da Amazônia que é conhecida como "marfim vegetal" .
"Também uso pedaços de coco vindos da Bahia, cascalho de pedras brasileiras, crochê de barbante, aparas de madeira, tudo ecológico" , assegura Vânia. As minúcias do reaproveitamento chegam às embalagens usadas pela artesã: delicados saquinhos feitos (outra vez) com filtros de café usados e restos de papel de parede, arrematados com um palito. Mais contemporâneo, impossível.
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